sábado, 1 de maio de 2010

Mau presságio

Era um lindo dia de sol, véspera de feriado. Alguns amigos se encontram na universidade para festejarem mais um início de semestre letivo. Tudo estava muito bem. Conversas, sorrisos, besteiras faladas sem displicência, farras e viagens a serem combinadas. A ânsia de viver de jovens que tem toda uma vida pela frente e que querem mais é aproveitá-la, junto daqueles que amam.

E do nada, uma onda de tristeza invade o coração de uma garota, ela não sabia o porquê daquele sentimento – mas ela saberia logo – e resolveu ir à casa de uma amiga compartilhar algumas fotos daquele dia tão divertido. Acontece que a tristeza se aprofundava e tomava a companhia da angústia e do medo.






Ela não conseguiu ir pra casa, algo dentro dela não permitia que essa viagem fosse feita. Depois de algumas tentativas, quase desesperadas, de falar com os pais para avisar o que sentia, ela consegue permissão para dormir onde estava.

Depois de um banho, algumas conversas e um livro, a menina – naquele momento poderia se considerar uma criança indefesa - se acalma, embora não por muito tempo. O medo se instalara nela outra vez, o sono fugia-lhe dos olhos e a sensação de que algo ruim iria acontecer se instaurara de vez em seu espírito.

Sim, ela dormiu, apesar de ter sido um sono permeado de sobressaltos, ela se acordava constantemente. Viu o dia amanhecendo e achava que tudo já se restabeleu e que estava fora de perigo.

Banho. Café-da-manhã. Hora de ir embora. Quando a garota estava quase chegando ao ponto de ônibus percebe que acabara de perder a condução e se vê obrigada a ter que esperar mais alguns longos minutos. O transporte chega. Sua viagem mal tinha começado quando tudo ocorre e finalmente o que acontecera na noite anterior passa a ter um significado.

Uma mulher, que acabara de passar pedalando sua bicicleta pela nossa personagem quando ela ainda estava esperando sua condução, estava no caminho do ônibus, que não conseguiu desviar a tempo, foi atropelada por ele e logo foi jogada ao chão.

A jovem estudante viu tudo. Ela foi testemunha de um acidente. Seus medos da noite anterior se fizeram reais. A mulher, que acordara cedo para participar de uma corrida ciclística, teve sua vida apanhada por um único deslize de atenção, perdera a vida ali, instantaneamente, ao meio fio de uma avenida movimentada de Fortaleza.

A garota não teve coragem de chegar mais perto. Mas de longe via uma pequena trilha de sangue que jorrava da cabeça do ser já sem vida. Então ela toma ciência do havia acontecido, começa a chorar e dizer aos passageiros, que estavam próximo, o que ela vinha sentindo. Era tarde. Ela não pôde fazer nada para ajudar a mulher.

A vida às vezes nos manda mensagens que custamos a entender. Mas nunca nos deixa sem uma explicação. Nesse dia a jovem pode perceber a efemeridade da vida e o quanto somos frágeis criaturas, à mercê dos acasos e da morte. Provavelmente, a cena vista nesse dia não se apagará da memória dela. E o medo, o nervosismo e a angústia tomarão conta dela outra vez. Quando pensará que algo ruim poderia ter acontecido com ela e não com outra pessoa.

3 notas:

Jéssica de Sousa disse...

tenso, muito tenso.
Realmente, nunk devemos desprezar os sinais que a vida nos dá.

Thamires disse...

Muito bem escrito, Sarinha. Parabéns. De certa forma imagino a angústia que você sentiu, já tive pressentimentos ruins do tipo. Mas é isso mesmo, a gente não deve se entristecer demais por não ter podido fazer nada. Resta-nos a resignação, né. E a consciência de que precisamos valorizar a vida, já que somos seres tão vulneráveis.

Unknown disse...

Deixei de viajar por causa de disso. Eu já acreditava nesses pressentimentos ruins, agora é que eu não abandono essa idéia de jeito nenhum^^.
xeru, amor!

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