quarta-feira, 12 de maio de 2010

Tempo.



O Tempo perguntou pro Tempo quanto tempo o Tempo tem.
O Tempo respondeu pro Tempo que o Tempo tem tanto tempo quanto o Tempo tempo tem.

E nessa história de tempo o meu se foi.
Se o dia tivesse mais algumas horas, elas ainda seriam insuficientes pra mim.
Provas, trabalhos, livros, textos!

E tempo pra fazer nada?
Pra olhar pra geladeira?
Acho que vou parar todos os relógios do mundo!

sábado, 8 de maio de 2010

A pequena princesa.


Era uma vez uma pequena princesa que habitava um planeta pouco maior que ela, e que tinha necessidade de um amigo. Mas aquela princesinha tinha algo diferente, ela não era normal, era lerda de nascença e retardada de criação, não no sentido pejorativo da palavra, ela apenas tinha um jeito mongol ou passante de ser feliz.

Assim como a realeza, o seu reino era diferente de todos os outros já vistos. Lá portão era bambu, ternos eram quimonos, em vez de muros se usavam arbustos e todos os dias são ensolarados, mas não são escaldantes. As garagens são cavernas, brigas são romances, a centopéia é o trem e a mão alcança tudo que se deseja, é possível até tocar o céu.

Em seu mundo fios elétricos passando de poste em poste são galhos de frondosas árvores. Os hidrantes são nascentes. Televisão é um imenso aquário e todas as estrelas são cadentes e elas realizam os nossos desejos. As calçadas são imensos tapetes verdes, feitos de grama. O vento dança ciranda. O trânsito é um numeroso cardume de peixes palhaços e o mais importante: todo sonho anda.

Esse planeta que era o reino e o mundo da pequena princesa abrigava também um segredo, o segredo da felicidade da nossa menina com coroa na cabeça. Eis ele. É muito simples: só se vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Nem um dia.


O meu dia se fez canção!




Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo.

Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide.

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Gelo.



O sol brilha lá fora.
Não o sinto.
Me refugio na solidão.
O gelo queima minha pele.
O fogo não me aquece.
Tudo é mórbido e gélido.
Assim como meu coração.

Meu corpo queima.
Tento fugir.
Minhas pernas congelaram.
Meu coração também.

Petrificada.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Hora de Dormir.

As horas passam.
O dia já se foi.
A noite dá seus primeiros sinais de vida.
Pessoas vem e vão
Dando continuidade à rotina.


A vida se mostra frenética.
E eu ali.
Mais uma em meio à multidão.
O cansaço.
Expressão constante em meu rosto.


Uma boa noite de sono:
Utopia.


A cama me espreita.
Ali, parada, quieta em seu canto
Me observa e me convida,
Seduz meu corpo
Abatido, desfalecido.

Minha mente luta.
Ainda há muito o que fazer.
A noite não terminou.
Não é hora de sonhar.


A guerra continua...
E, horas depois,
Minha mente se rende.


Sim,
É hora de deitar!


domingo, 2 de maio de 2010

Domingo pede cachimbo.

São onze da noite de um domingo sem graça, assim como tantos outros. O vento assobia lá fora, movendo as folhas das árvores e trazendo nuvens de chuva, que logo se precipitam sobre minha solidão.

O que fazer aos domingos quando quem amamos não está por perto?

O deleite com a leitura de um livro me satisfaz, mas não totalmente. Resolvo estudar, afinal no dia seguinte tenho aula logo cedo, não me concentro. Dormir, sim, é algo que pode acabar com meu problema, tentativa em vão, meus olhos não fecham.

Em meio à incessante procura de algo fazer, vejo em meu criado mudo um caderno, algumas canetas e lápis de cor. Pronto! Achei algo incrivelmente interessante. Escrever é revigorante. Usar as palavras para externalizar nossas sensações é como dá-las uma forma. A chuva lá fora me inspira e o vento canta suaves poesias ao meu ouvido.

Tenho uma resposta para a minha pergunta. Os domingos servem para sentirmos saudade. Não só do amor que não está por perto. Mas sentir saudade do gosto doce da infância, da liberdade da adolescência, do beijos e abraços dados e dos banhos de chuva já tomados.

As palavras já me faltam.
A saudade me sobra.
A chuva e o vento se foram.
Vejo-me largando o papel e a caneta.
Por aqui me despeço.

Boa noite.

sábado, 1 de maio de 2010

Mau presságio

Era um lindo dia de sol, véspera de feriado. Alguns amigos se encontram na universidade para festejarem mais um início de semestre letivo. Tudo estava muito bem. Conversas, sorrisos, besteiras faladas sem displicência, farras e viagens a serem combinadas. A ânsia de viver de jovens que tem toda uma vida pela frente e que querem mais é aproveitá-la, junto daqueles que amam.

E do nada, uma onda de tristeza invade o coração de uma garota, ela não sabia o porquê daquele sentimento – mas ela saberia logo – e resolveu ir à casa de uma amiga compartilhar algumas fotos daquele dia tão divertido. Acontece que a tristeza se aprofundava e tomava a companhia da angústia e do medo.






Ela não conseguiu ir pra casa, algo dentro dela não permitia que essa viagem fosse feita. Depois de algumas tentativas, quase desesperadas, de falar com os pais para avisar o que sentia, ela consegue permissão para dormir onde estava.

Depois de um banho, algumas conversas e um livro, a menina – naquele momento poderia se considerar uma criança indefesa - se acalma, embora não por muito tempo. O medo se instalara nela outra vez, o sono fugia-lhe dos olhos e a sensação de que algo ruim iria acontecer se instaurara de vez em seu espírito.

Sim, ela dormiu, apesar de ter sido um sono permeado de sobressaltos, ela se acordava constantemente. Viu o dia amanhecendo e achava que tudo já se restabeleu e que estava fora de perigo.

Banho. Café-da-manhã. Hora de ir embora. Quando a garota estava quase chegando ao ponto de ônibus percebe que acabara de perder a condução e se vê obrigada a ter que esperar mais alguns longos minutos. O transporte chega. Sua viagem mal tinha começado quando tudo ocorre e finalmente o que acontecera na noite anterior passa a ter um significado.

Uma mulher, que acabara de passar pedalando sua bicicleta pela nossa personagem quando ela ainda estava esperando sua condução, estava no caminho do ônibus, que não conseguiu desviar a tempo, foi atropelada por ele e logo foi jogada ao chão.

A jovem estudante viu tudo. Ela foi testemunha de um acidente. Seus medos da noite anterior se fizeram reais. A mulher, que acordara cedo para participar de uma corrida ciclística, teve sua vida apanhada por um único deslize de atenção, perdera a vida ali, instantaneamente, ao meio fio de uma avenida movimentada de Fortaleza.

A garota não teve coragem de chegar mais perto. Mas de longe via uma pequena trilha de sangue que jorrava da cabeça do ser já sem vida. Então ela toma ciência do havia acontecido, começa a chorar e dizer aos passageiros, que estavam próximo, o que ela vinha sentindo. Era tarde. Ela não pôde fazer nada para ajudar a mulher.

A vida às vezes nos manda mensagens que custamos a entender. Mas nunca nos deixa sem uma explicação. Nesse dia a jovem pode perceber a efemeridade da vida e o quanto somos frágeis criaturas, à mercê dos acasos e da morte. Provavelmente, a cena vista nesse dia não se apagará da memória dela. E o medo, o nervosismo e a angústia tomarão conta dela outra vez. Quando pensará que algo ruim poderia ter acontecido com ela e não com outra pessoa.